Mulheres de Fortaleza são presenteadas com “show de estupro”

Por: Laryssa Sampaio*

Apesar de o mês de março ser conhecido como o “das mulheres”, o Ceará se destaca como décimo estado com maior número de homicídios contra as mulheres, e a nossa capital, Fortaleza, ocupa a sétima posição, segundo dados do Mapa da Violência de 2012. O número de mulheres assassinadas no Ceará aumentou em 15,2% em apenas dois anos, de 2010 a 2012. Em Fortaleza, esse acréscimo foi de 14,9%.

Não bastassem esses dados, que já são alarmantes, nós, mulheres, que somos cotidianamente violentadas, traficadas, mercantilizadas e estupradas, vamos ganhar “de presente” o show da banda New Hit. Para quem não sabe, nove integrantes dessa banda estão sendo julgados no fórum da cidade de Ruy Barbosa, na Bahia, acusados de terem estuprado duas adolescentes de 16 anos em agosto de 2012.

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Marcha Mundial das Mulheres nas ruas de Fortaleza contra a violência sexista.

Enquanto os acusados fazem shows pelo Brasil afora, as duas adolescentes, que, além de terem sofrido violência sexual, foram ameaçadas de morte, encontram-se afastadas do convívio social e com suas liberdades cerceadas. Isso é inadmissível, pois retira a condição de vítima das adolescentes culpabilizando-as pela violência sofrida, já que os acusados estão em liberdade.

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O caso New Hit traz à tona um debate importante: a incorporação da “cultura do estupro”, ou seja, quando há um incentivo ao crime e à culpabilização da vítima através de músicas, peças publicitárias, novelas, piadas humorísticas etc. O show, que vai acontecer no dia 31 de março, a barraca Master Beach, na Praia do Futuro, em Fortaleza, é um exemplo objetivo dessa cultura.

O que não queremos é que crimes como esse, cometido pelos integrantes da banda New Hit, fundamentados no machismo que subordina, oprime e assassina milhões de mulheres, sejam naturalizados. O acontecimento desse show, ao contrário, legitima e sanciona os atos criminosos do grupo, e isso também é uma violência, ainda que simbólica, contra as mulheres.

Laryssa Sampaio é militante da Marcha Mundial de Mulheres no Ceará.

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Marcha Mundial das Mulheres nas ruas de Fortaleza contra a violência sexista.

 

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